segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A descoberta

Duas vezes foi interrogado pela PIDE - em 1965 e 1969 respectivamente. Na segunda vez, foi-lhe comunicado que tinha que ir para Angola exercer as funções de enfermeiro. Tal notícia veio-lhe destruir os planos de fuga para França, “mas como ia para enfermeiro pensei duas vezes: Não, eu não vou matar ninguém”.

Da experiência de guerra sublinha a solidariedade que gritava mais alto que a tensão diária e a sua própria descoberta, contando com a ajuda das drogas leves e da música. “Sabia que se não perdesse esse tempo comigo ia ser um frustrado para toda a vida. (...) Vi que era tão pequenino como um grão de areia (...) que era grande como um grão de areia”. No entanto, sempre se questionou sobre a sua pactuação com a guerra - “Mas afinal o que é que eu estou aqui a fazer? Estou a defender o quê? A minha pátria? A minha pátria é a Cividade! É a Sé, é Braga, é Portugal. Agora Angola?! Bah!”

Participou na crise académica de 69 em Coimbra, como representante da academia bracarense. Tinha acesso a notícias relativas à capital, como declara: “ele [José Manuel Barbosa] trazia o Avante e metia-o por detrás do autocolismo do Astória”. Já o 25 de Abril não foi novidade. Sempre actuou contra o regime, mas “de mansinho”.

Depois, durante 4 anos “era o dolce fare niente. As cartas é que me davam o sustento”.

Adora o teatro. Embora o faça por satisfação pessoal, não o concebe sem o público. Adora trabalhar com duas e três gerações diferentes enquanto ensaia com o grupo PIP´H (Produções ilimitadas Fora d´Horas), adora "Sinto-me tão vaidoso, é quase indescritível”. Sempre com a pronúncia nortenha bem incutida, declama “a maior baboseira com a mesma veemência com que diria um texto de Shakespeare”. Não concebe a linguagem corporal mais importante que a textual; "a intenção é que conta no teatro”.
Não tem medo da morte embora a dor assuste-o bastante. Não tem remorsos nem grandes traumas. Apenas quer viver e ser feliz.