segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

“A minha pátria? A minha pátria é a Cividade!”

Prestes a embarcar para França para fugir ao salazarismo, Camilo Silva é obrigado a ir para Angola na qualidade de enfermeiro. De regresso a Portugal, o actor ajuda na concretização do 25 de Abril.

Camilo Silva foi interrogado duas vezes pela PIDE – em 1965 e 1969 respectivamente. Na segunda vez, foi-lhe comunicado que tinha que ir para Angola exercer as funções de enfermeiro. A notícia destrói-lhe os planos de fuga para França. “Mas como ia para enfermeiro pensei duas vezes: Não, eu não vou matar ninguém”.

Da experiência de guerra sublinha a solidariedade, a tensão diária e a sua própria descoberta. As drogas leves e a música funcionaram como fuga mental ao horror que presenciava. “Sabia que se não perdesse esse tempo comigo ia ser um frustrado para toda a vida. (...) Vi que era tão pequenino como um grão de areia, que era grande como um grão de areia”, revive. No entanto, sempre questionou a sua ligação com a guerra. “Mas afinal o que é que eu estou aqui a fazer? Estou a defender o quê? A minha pátria? A minha pátria é a Cividade! É a Sé, é Braga, é Portugal. Agora Angola?! Bah!”

Em Portugal participa na crise académica de 1969 em Coimbra, como representante da academia bracarense. Destaca a ajuda das notícias relativas à capital, que lhe chegavam através de jornais clandestinos. “Ele [José Manuel Barbosa] trazia o Avante e metia-o por detrás do autoclismo do Astória”, relembra entusiasmado.

Os anos que se seguiram foram marcados pela diversão. “Durante 4 anos era o dolce fare niente. As cartas é que me davam o sustento”, adianta o actor.

Actualmente, com 62 anos, Camilo Silva não deixa de viver entusiasticamente. Vive da cultura, do teatro profissional e dos amigos. Politicamente activo, sonha continuar a mudar o pensamento retrógada que, garante, “anda por aí”.


Excerto de uma entrevista a Camilo Silva sobre a História de Braga:

Sem comentários: